Se eu tiver de viver obrigado...
Painel Portas e Janelas de Castelo Branco
(Pasta ZP sobre madeira 2013)
Hall da Câmara Municipal de Castelo Branco
Se
eu tiver de viver obrigado,
obrigo-me
a viver acompanhado
de
uma viola beiroa
onde
cada corda entoa
um
cantar ou um trinado,
e
beirão, que é mais que fado.
Sou como essa viola
que
é assim como eu
e
nada tem de riqueza
mas
que consola, que canta,
que
espanta a sua tristeza
e
cumpre o que prometeu.
Ela
tem cordas por veias
e
vive paredes meias
com
as carícias dos dedos,
amor
feito de tocar,
que
em si descobre os segredos
do
que tem para contar.
Tão
antiga, e não se cala
quando
os calos de viola
marcando
as pontas dos dedos
são
a impressão digital,
funda
e cheia de segredos,
de
um calo que consola
o
violeiro e a viola.
Se
eu tiver de viver obrigado
a
ficar no esquecimento,
morrerei
um dia antes desse dia
afogando
em tristeza a alegria,
e
num instante, que afinal é tanto tempo,
e
num presente, que é apenas passado.
Somos
gente, somos terra,
somos
força e comunhão
com
o futuro presente
nas
palmas de cada mão.
Somos
formigueiro, vida,
desde o tempo dos avós,
da aldeia ao bairro erguida
e onde nunca estamos sós!
Aqui tudo se fez, cabeça levantada,
dia a dia, ano a ano, verão a verão.
No Jardim do Paço, fica alma extasiada
e no castelo nos fica, contente, o coração.
Da quelha para a rua,
em palmos medidas,
estão as nossas vidas
de sol e de lua.
Ao sol e à lua
é ganho o asfalto.
Fica-se mais alto
da quelha para a rua.
No ar puro dos arredores queridos
todo o ciclo da cidade se completa.
É no campo que se apuram os sentidos
e a vontade de chegar à mesma meta.
Da cidade ao campo,
em palmos medidas,
vão as nossas vidas
sob um mesmo manto.
E é neste manto
que nos aquecemos.
Com ele crescemos
como por encanto.
A amizade foi nas ruas engrossada.
Nos bairros, nas aldeias,
nos recantos da cidade
descobrimos como deve ser amada
esta terra onde é tão rica
e tão vivida a liberdade!
A esta cidade branca e luminosa,
e ao campo perfumado que a rodeia,
voltaremos sempre como a aranha desejosa
de descansar nos cantos onde teceu a teia.
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