A poesia do Rogério
Meia, a noite (Acrílico sobre tela 2008)
Meio, o dia (Acrílico sobre tela 2008)
Este foi o último poema que me enviou
Agreste
Agora, que repouso nas cores quentes da tua face,
aprendo que não há além.
Há apenas uma maneira simples de chegar
quando depois de chegar
se anulou o passado e o futuro,
e no peito se criou um vazio
ao medo.
Quando, depois de chegar,
o que passa a suceder é apenas a eternidade,
essa essência de terra e rosmaninho,
alma infinita
de um segredo.
Dou-te um nome para iniciar
a minha voz na tua intimidade.
Não desfaço,
agora que caminhas
no vale das tuas vinhas,
o teu rosto nem a tua identidade.
Dou-te um nome só porque mereces
estar mais próxima do jardim que envolve a casa
de sentires os figos e as amoras,
de tocares por dentro a paz
da oliveira.
De escutares o meu olhar
de todas as memórias, de sofreres um pouco
a nostalgia amena
que imaginas longe
da sua fronteira.
Dou-te um nome de fuga, de curta existência,
na imensidade da planície
e olho-te
numa distância que, não sendo eterna,
tem mesmo assim da lavanda a sua bastante
essência.
Escondes no tempo o que podias entregar-me
de líquido,
tão breve é este presente de deleite.
Imagino-te deitada no silêncio alentejano
apetecida e breve como se sobre o teu ventre,
baixando descesse
um fio solar e transparente
do melhor azeite.
Quando me aproximo só tenho
o que do chão apanhei e os meus olhos brilham
num som que quebra o vento
batendo em mim.
Fazes então uma distância maior no som
como se fosses tu que tivesses quebrado
o silêncio da noite, longo, longo
e demorado no bandolim.
Que imagina a terra em nós senão
aquilo que é intemporal?
No teu rosto existem pedaços de sol,
transparências de alma
de noites abreviadas.
Talvez um sentimento que nunca se saberá
já que a sua emoção é irreal.
Não há além. Todo o horizonte
é visível e só o entusiasmo
possui um ideal.
Tão simples, vês? são as tuas lágrimas.
Tão simples é esta madrugada
submersa na nossa distância isolada
deste chão claro e sensível.
E há, deste chegar, o teu corpo nomeado
no coração da terra.
Num outro coração de mim,
branco e indizível.
Rogério Carrola
Comentários
Enviar um comentário