O Primeiro Texto

A primeira vez que assinei um texto foi em 1961. Tinha nove anos e estreava a caneta de tinta permanente, uma Sheaffer Junior Short Balance oferecida pelo meu avô no meu primeiro aniversário.
«Uma caneta?», perguntou-lhe o meu pai, na ocasião. «O miúdo há de ser escritor, vais ver», respondeu o velho Manuel.
A verdade é que com aquela caneta escrevi o único texto que mereceu um prémio. Tratava-se do concurso de redação da escola, ao qual concorri com «A minha imaginação e os dois estranformadores».
Colo aqui uma reprodução do texto premiado. Aviso desde já que contem os meus habituais, na época, nove erros ortográficos, riscados, como sempre, pela minha professora.  

A minha imaginação e os dois estranformadores


Eu gostava de ser como o Nelson mas não concigo. Para mim uma cadeira não paça de uma cadeira quando para ele tanto pode ser um cavalo como uma motorizada. Às vezes faço um esforço maior e até sou capás de imaginar que uma cadeira pode ser uma coisa diferente por exemplo um banco com encosto. Como diz o Nelson do que eu gostava mesmo era de imaginar que sentado nela podia andar a cavalo nas campinas que ficam do outro lado da cidade e depois descançar na sombra da cabana em que a minha imaginação, como diz o Nelson, a estranformava. Mas não sou capás pronto. O Nelson faz iço por mim e como não gosta de escrever o que imagina não se importa que eu o faça por ele.

É bom não é? Somos dois estranformadores. Um imagina e o outro escreve. 

José Pires


Se julgarem que tudo isto é fruto da minha imaginação, não me zango.
Prometo não ficar como na imagem.








 Afinal não passo de um "estranformador" não é?   

Comentários

  1. Ter a capacidade de sonhar é natural no ser humano, mas raro é aquele que tem a capacidade de sonhar, para além do sonho, na distância do que os seus olhos veem.
    Ser capaz de transformar o sonho mais simples, numa árvore que dá como frutos gravuras de seres imaginários, “quases” que saem dos seus ramos ou das suas raízes, nos sorrisos dos amigos retratados. É assim que o transmaginador representa as suas emoções e a cor das ideias.
    Obrigada MANO ZÉ
    Teresa

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  2. Quem escreve tem quase sempre dupla personalidade: um louco que imagina (o criativo) e um tonto que escreve (o que acredita poder ser lido).

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