Na poesia, o livro não é o corpo, e o corpo não é a cidade.




Na poesia,
o livro não é o corpo,
e o corpo não é a cidade.
O corpo é a superfície sensível,
o livro é o espaço capaz de afetar e de sentir,
e a cidade é apenas o tempo da repetição
e da divergência.
Corpos, livros e territórios,
entre a luz e as sombras,
vivem as mesmas narrativas,
por dentro e por fora
do medo e da coragem,
do amor e do ódio.
Quando lhes chega,
a poesia
é um espólio de migalhas.
Quase parece uma melodia,
um canto de rouxinol
que canta na escuridão
para alegrar as suas ausências
com a doçura da música invisível,
comovida e tranquila
de tantas narrativas.
Migalhas endurecidas pela vida
calculista,
organizada,
mecânica.
Ofertas de um Prometeu
que quebrou as correntes
e se libertou do rochedo
depois de compreender
que para se ser poeta
não basta saber escrever,
e que a poesia é a urgência
das emoções que sabem:
os pássaros voam no escuro
e as pequenas flores desabrocham no entulho,
porque ambos se lembram de todos os caminhos
das regiões desconhecidas.    


José Dias Pires

21 de março de 2019

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